O silêncio em volta de nós era assustador. O vento soprava suavemente e aí ouvi o latido distante de um cão solitário. 
— Escute aquele latido — continuou Dom Juan. — É assim que a minha amada terra me está ajudando agora a mostrar-lhe esse último ponto. 
Aquele latido é a coisa mais triste que se pode ouvir. Ficamos calados um momento. O latido daquele cão solitário era tão triste e a quietude em volta de nós tão intensa que senti uma angústia entorpecente. Aquilo me fez pensar em minha própria vida, minha tristeza, o meu não-saber para onde ir, o que fazer. 
— O latido daquele cão é a voz noturna do homem — disse Dom Juan. 
— Vem de uma casa naquele vale para o Sul. Um homem está gritando por intermédio de seu cão, pois são escravos companheiros de toda a vida, sua tristeza, o seu tédio. Ele está implorando à morte que vá libertá-lo das correntes cacetes e feias de sua vida. 
Dom Juan com suas palavras tocara num ponto muito perturbador para mim. Senti que ele estava falando diretamente para mim. 
— Aquele latido e a solidão que ele provoca falam dos sentimentos dos homens — continuou ele. — Homens para quem uma vida inteira foi como uma tarde de domingo, uma tarde que não foi de todo desgraçada, mas meio quente e incômoda e vazia. Eles suaram e se afligiram muito. Não sabiam para onde ir, nem o que fazer. Aquela tarde deixou-os apenas com a recordação de aborrecimentos mesquinhos e tédio, e depois, de repente, passou; já era noite. 


Porta para o Infinito - Carlos Castaneda

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